Acredito que muitas aqui responderiam a essa pergunta dizendo que fariam de tudo pelo filho. Pois bem, mas e se seu filho cometesse um crime, qual seria a sua atitude? Continuaria defendendo-o com unhas e dentes mesmo sabendo o quão errado isso é?
Produzido pela aclamada A24 e dirigido por Anna Rose Holmer e Saela Davis, "Criaturas do Senhor"estreia hoje nos cinemas e traz Paul Mescal (indicado ao Oscar de melhor ator por Aftersun) e a incrível Emily Watson (duas vezes indicada ao Oscar por "Ondas do Destino"e "Hillary e Jackie") num drama familiar que nos faz justamente refletir o quanto uma mãe, ao querer proteger o seu filho, pode acabar emocionalmente com a vida de outras pessoas.
Na história que se inicia em uma vila de pescadores em que as pessoas não tinham o hábito de serem criadas para aprenderem a nadar, o filho de uma das moradoras dessa região morre afogado e, durante o encontro de Aileen (Watson), em um bar, com a mãe do menino morto - vale ressaltar que nessas regiões, apesar do clima de tristeza e pesar, é muito comum serem oferecidos almoços ou encontros com comida e bebida para se prestar condolências aos familiares da pessoa falecida - seu filho Bryan O'Hara, regressa à sua terra, a Irlanda, sem avisar e diz que voltou para ficar.
Feliz com a volta do simpático e amoroso rapaz, Ailleen não mede esforços para vê-lo feliz. Logo de cara ela arruma tudo para que ele possa trabalhar na fazenda de ostras da família e percebemos que a relação do filho com o pai não é das melhores, já que ele não se mostra nada feliz com a volta do filho.
Em nenhum momento sabemos do passado dessa família e, principalmente, a razão que fez Bryan ir embora da Irlanda e porquê ele resolveu voltar. Tudo é muito obscuro e tudo o que se pode ser entendido do filme fica nas entrelinhas dos diálogos e das ações das personagens.
Porém, há o abuso sexual de uma moça muito amiga de todos da família e, como primeiro suspeito, temos Bryan O'Hara.
Aileen quando interrogada sobre se estava com o filho na noite em que tudo aconteceu, confirma que sim e, a partir daí, não só as máscaras daquela família começam a cair quanto começamos a ficar cada vez mais intrigados em saber os motivos que levaram aquele jovem a ir embora para a Austrália e, consequentemente, o seu retorno à Irlanda.
Todos ali guardam histórias, segredos e não se abrem. O fato ocorrido começa a estremecer a relação entre mãe e filho e, também, entre Ailleen e as pessoas daquele lugar.
Talvez essa falta de informação incomode um pouco. O fato do espectador ficar sem respostas faz com que o filme termine e a gente fique por tempos e tempos digerindo tudo o que ali aconteceu.
A fotografia é escura até pra reforçar o aspecto frio do lugar e, logicamente, das pessoas e a atuação de Mescal e Watson não decepcionam.
Ela fala com os olhos e não precisa falar nada para mostrar os sentimentos de Ailleen com relação ao filho e toda aquela situação. Percebemos o quão angustiante e desolador tudo aquilo é e vemos o quanto ela vai se transformando à medida que percebe que proteger o filho não foi uma boa solução para o problema em que ele se envolveu.
Mescal também mostra que, além de seu papel em Aftersun, há muito a vir por aí.
É um filme interessante, mas não uma grande trama apesar das atuações. Vale conferir e refletir: Ser mãe é realmente proteger o filho de absolutamente tudo?